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Pedro Aragão
29 de ago. de 2025
A comunicação é uma atividade essencial para a vida em sociedade. "Se você não se comunica, vai se trumbicar", diria Abelardo Barbosa, o Chacrinha. É difícil imaginar que a humanidade tenha chegado tão longe tropeçando em sintaxe. Na verdade, foram as informações corretas que garantiram nossa sobrevivência. O historiador israelense Yuval Noah Harari, em seu livro Sapiens: Uma Breve História da Humanidade, nos diz — vejam só! — que a fofoca foi fundamental para nossa evolução. Não foi a invenção da roda, nem domar o fogo, muito menos domesticar o trigo — que, por sinal, segundo o historiador, foi ele quem nos domesticou —, mas o simples e prazeroso ato de falar da vida alheia!
Ninguém sabe o que calado quer, diriam alguns. Outros defenderiam, peremptoriamente, que calado vence. Entre a vitória e a derrota, existem muitos pormenores, defendidos com discursos, apartes e mesuras. As conversas costumam ser a trilha sonora daqueles que fazem de certas palavras música para os ouvidos. Podem ser suaves, como uma bela sinfonia, ou estridentes, estourando os tímpanos.
Acalmam a alma ou inquietam o espírito. Uma sopa de letras, ingerida com leve degustação, pode favorecer um dia tranquilo, longe das amarras entéricas. Diferente de quem prefere engoli-las sem a menor cerimônia. Em algum momento, certamente, a congestão virá; a dor repousada no ventre causará o incômodo próprio daqueles que, inevitavelmente, acabarão por pôr para fora tudo o que depositaram em terreno arenoso.
É importante saber para que se comunica. Outra constatação fundamental é ter em mente para quem comunicar. Falar para as paredes nunca trouxe resultados, dizem alguns pesquisadores — que, ironicamente, nunca foram ouvidos. Dizer o óbvio pode ser um obstáculo para compreender os pormenores daquilo que não se diz. Cercamo-nos daquilo que já sabemos, mas nunca entendemos exatamente o que estamos sabendo.
Guerras podem ser vencidas ou perdidas no front das informações. E não apenas no campo real de batalha, mas também no belicismo das ações que coordenam a administração das nações. A palavra dita sem passar pela peneira do bom senso pode se tornar uma granada muito mais perniciosa do que centenas de bombas atômicas. Nossos ancestrais já sabiam disso; por isso, falavam apenas o suficiente para se manterem vivos na esfera da existência, incumbindo-nos de manter o ritmo natural da sobrevivência. O som da própria voz pode ser agradável apenas a quem fala. Fazer-se ouvir não é tarefa fácil; ter repertório para isso é mais complexo ainda.